terça-feira, 23 de outubro de 2012

Nióbio: Bem Mineral, Bem Nacional - VII

 
 Fonte: niobiodobrasil.blogspot.com.br


Nióbio
Rui Fernandes P. Júnior
Especialista em Recursos Minerais
 
 
7. PERSPECTIVAS

7.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Alguns fatores macroeconômicos concernentes a economia mundial são extremamente relevantes em nossa análise, porque não só influenciam como também podem futuramente determinar os rumos um setor ou ramo da atividade econômica.

No caso do nióbio não é diferente: nos últimos anos alguns fatos merecem uma menção mais aprofundada, pois podem auxiliar na tomada de decisões futuras. Dentre estes fatores, podemos destacar três: o forte crescimento chinês nos últimos 15 anos, as fortes altas no preço de petróleo entre 2003 e meados de 2008 e a crise econômica estadunidense, oriunda do setor imobiliário e deflagrada em agosto de 2007.

A China sofreu uma forte inflexão nos rumos de sua economia política, no final dos anos 1970, após a morte de Mao Tse Tung e a chegada de Deng Xiaoping no comando do país. Este presidente não alterou o regime político, mas promoveu uma abertura econômica, tendo no Estado o elemento centralizador desta abertura. O crescimento econômico do Produto Interno Bruto (PIB) chinês se encorpou a partir dos anos 1990, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, entre 1991 e 2003 foi em média de 11,45% ao ano.

Em 2006 e 2007, as estimativas do FMI apontam para um crescimento de 11,6% e 11,9%, respectivamente e as projeções para 2008 e 2009, indicam uma desaceleração neste crescimento de 9,7% e 8,5%, respectivamente, em virtude da crise na América do Norte.

Este excepcional crescimento tem sido apontado como um dos principais determinantes da alta dos preços das commodities após 2002. Setores intensivos em commodities metálicas e industriais (automotivo, metalúrgico e de construção civil) pressionaram a demanda por esses bens ao mesmo tempo em que o crescimento populacional fomentou a compra externa de alimentos e commodities agrícolas.

Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) apontam um crescimento nas importações chinesas entre 2003 e 2004 de 7% para o ferro e aço, 35% na importação de metais ferrosos, 60% na importação de petróleo e 70% na importação de minérios.

A forte demanda por commodities metálicas processadas, incluindo a demanda por ferro-nióbio na elaboração de aços especiais, pode ser explicada dentro deste crescimento econômico chinês. Uma das conseqüências deste crescimento é o intenso processo de urbanização naquele país, refletindo na indústria automobilística (crescimento da frota automotiva) e na construção civil e também pelo fato da China atravessar uma crise energética e estes insumos são altamente intensivos em energia, obrigando-os a importar o produto já processado.

No que concerne ao petróleo, este é atualmente a principal fonte de energia primária no planeta. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), em 2004, a oferta mundial de energia foi de 11 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep), enquanto o consumo final de energia foi de 7,6 bilhões de tep's. O petróleo, o carvão mineral e gás natural são as principais fontes de energia, com 34,3%, 25,1% e 20,9%, respectivamente.

No lado do consumo, o petróleo responde por 42,3% do consumo mundial de energia. O gás natural vem aumentando sua participação na matriz energética mundial, enquanto o petróleo deverá permanecer como principal fonte de energia mundial até que haja restrição de oferta, após atingir o pico de produção mundial. Mesmo diante da descoberta de novas jazidas, inclusive no Brasil, que garante o suprimento da demanda mundial por mais algumas décadas, caso essa demanda se mantenha constante.

Os preços do barril de petróleo oscilaram no teto máximo de US$ 40,00 desde o final da Guerra do Golfo (1991) até meados de 2003, quando ocorreram sucessivas valorizações. Durante o ano de 2007 e no primeiro semestre de 2008, os preços dispararam chegando ao recorde de US$ 147,00 em julho do ano passado.

Os preços caíram fortemente em virtude da crise sistêmica do sistema financeiro estadunidense, e tiveram uma leve recuperação no primeiro semestre de 2009, estando atualmente no patamar de US$ 70,00. A forte elevação nos preços do petróleo tem o caráter essencialmente geopolítico, principalmente capitaneado pelos EUA e pelos emergentes asiáticos: China e Índia.

A China já foi exportadora de petróleo, mas atualmente é o segundo maior importador do mundo e sua produção interna atende somente um terço de suas necessidades. A Índia também depende das importações de petróleo, o que corresponde 85% do consumo interno. O Japão e a Coréia do Sul também dependem fortemente da importação de petróleo para sustentar suas economias domésticas.

Para atender esta crescente demanda, há uma necessidade logística de maneira que os principais fornecedores, como a Rússia e os Países do Oriente Médio (Arábia Saudita, Iraque e Irã) supram as necessidades crescentes dos países asiáticos e também dos países europeus. Por isso, grandes projetos de transporte dessas riquezas são determinantes (oleodutos e gasodutos).

O oleoduto siberiano, já mencionado, ligando a Rússia até o Mar do Japão, com ramificações para a China; a construção do oleoduto ligando o Cazaquistão, na Ásia Central até a província chinesa autônoma de Xinjiang; o oleoduto ligando o Mar Cáspio (Azerbaijão) ao Mar Mediterrâneo (costa da Anatólia, na Turquia), fornecendo petróleo para a Europa e EUA e a possível construção de um gasoduto ligando o Irã e a Índia, atravessando o Paquistão, dentre outros megaprojetos são alguns exemplos de como o aspecto logístico é fundamental na questão mundial da oferta e demanda por petróleo.

Outro ponto importante a salientar neste cenário econômico internacional de extrema relevância é concernente a crise econômica oriunda na economia estadunidense, a maior economia do mundo.

A atual crise financeira, iniciada em agosto de 2007 foi rapidamente disseminada para os países europeus tem uma gênese distinta das crises econômicas dos anos 1990 e do início desta década, como a mexicana (1994), a do sudeste asiático (1997), a russa (1998) e argentina (2001). Em vez de ter sido gestada em países em desenvolvimento ou emergentes, esta crise teve origem em fenômenos relacionados a economias desenvolvidas e avançadas.

A bolha no setor imobiliário, com alta desproporcional nos preços de imóveis, característica de um intervalo de prosperidade na América do Norte e Europa Ocidental, foi o gatilho desta crise sistêmica, porém não foi à única causa. O déficit comercial e o déficit público da economia dos EUA, o crescimento e a inadimplência de alguns setores internos (incluindo o setor imobiliário) sem o devido respaldo de liquidez, também inflaram a bolha.

Isto conduziu a economia estadunidense a uma auto dependência de capitais líquidos para a manutenção do crescimento dos negócios, criando instabilidade monetária (a própria credibilidade da moeda norte-americana como unidade de referência monetária internacional foi ameaçada), riscos e incertezas.

Muitos bancos nos EUA, Inglaterra, França e em outros países europeus faliram ou receberam injeção de crédito estatal durante estes 13 meses até que o pedido de falência do quarto maior banco estadunidense de investimentos, Lehman Brothers, em setembro de 2008, desencadeou uma nova etapa da crise. Alguns países já foram seriamente afetados como Hungria, Paquistão, Ucrânia, Grécia, Lituânia e o caso mais grave: a Islândia, cuja pequena economia dependia fortemente dos depósitos financeiros nos três principais bancos locais.

Os valores neles acumulados chegaram a ser dez vezes maiores do que o PIB da ilha, localizada no Circulo Polar Ártico. A crise de setembro tornou transparente a incapacidade destes bancos em honrar seus correntistas, obrigando o governo a nacionalizá-los.

As projeções mais otimistas de crescimento mundial para 2009 foram revistas para baixo, de acordo com último boletim econômico do FMI, publicado em julho. A queda do PIB mundial oscilaria em torno de 1,4%. Os EUA, a Zona do Euro e o Japão teriam um decrescimento em seus PIB´s de 2,6%, 4,8% e 6,0% respectivamente.

Os países com potencial de crescimento evidente (BRIC´s,): Brasil, Rússia, Índia e China também tiveram suas estimativas revistas para baixo. O Brasil e a Rússia terão uma retração respectiva de 1,3% e 6,8%, enquanto China e Índia terão um crescimento de 7,5% e 5,4%, respectivamente.


7.2 BALANÇO PRODUÇÃO-CONSUMO

A produção e o consumo de nióbio estão estritamente relacionados ao comportamento do setor siderúrgico, condicionado à indústria automobilística, aeroespacial e petrolífera.

Entre 1997 e 2008 ocorreu um aumento de 225 % no saldo produção-consumo de nióbio. Neste ínterim, os crescimentos mais expressivos ocorreram entre 2004 e 2005, com 73% e entre 2006 e 2007, com 22%.
 
Os aumentos mais expressivos entre 2004 e 2007 acompanharam as fortes expansões da indústria automobilística e os aumentos nos preços dos barris de petróleo. Antes da segunda onda da crise econômica na América do Norte, as indústrias automobilísticas nos países emergentes, principalmente no Brasil, tiveram crescimentos expressivos.
 
No Brasil, o crescimento no setor automotivo entre 2006 e 2007 foi de 6,3% e o aumento nas vendas de carros, veículos, ônibus e caminhões tiveram um aumento de 28%: em 2006 foram vendidos 1,92 milhão de veículos e em 2007 foram vendidos 2,46 milhões. O crédito farto e longas prestações na venda das automóveis (um carro poderia ser financiado em até 84 parcelas ou sete anos) deram impulso ao setor.
 
O reflexo disto está nas grandes metrópoles brasileiras, que sofrem com congestionamentos cada vez mais freqüentes e intensos. Porém, a crise de setembro provocou uma inflexão nesta tendência, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (FENABRAVE), as vendas em outubro de 2008 tiveram uma queda de 11,6% em relação a setembro e de 3,3% em relação ao mesmo período de 2007, decorrentes da retração do crédito e a elevação dos juros.
 
Em novembro, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos automotores (ANFAVEA), a produção nacional de veículos diminuiu em 28,6% (194 mil unidades) em relação ao mesmo período de 2007 (272,9 mil unidades) e 34,4% em relação ao mês de outubro (296,9 mil unidades). Em dezembro, as vendas no setor tiveram um aumento de 9,4% sobre o mês anterior, reflexo da redução do IPI no setor.
 
A produção acumulada de janeiro a dezembro de 2008 foi de 3,2 milhões de veículos, 8% maior que o acumulado no mesmo período de 2007 e com isso o país subiu uma posição no ranking mundial, do sétimo para o sexto lugar. No primeiro semestre de 2009, segundo a mesma entidade, foram fabricados 1,46 milhões de veículos, uma queda de 13,6%, em relação ao mesmo período de 2008.

A atual crise gera um cenário de incertezas, incluindo o comportamento microeconômico da indústria do nióbio. Não se sabe em qual magnitude a crise afetará os países emergentes: Rússia, China, Brasil e Índia, especialmente os dois países asiáticos demandantes de matérias primas, como o petróleo e insumos minerais. Além disso, os EUA representam aproximadamente 25% do PIB mundial e 30% do consumo, ou seja, mesmo se os países emergentes mantiverem um crescimento sustentado, o crescimento destes pode não contrabalancear o cenário recessivo na América do Norte e na Europa nos próximos anos.
 
Outro aspecto relevante, diz respeito à “simbiose econômica” entre os EUA e a China. A renda dos habitantes dos EUA não aumentou, mas seu poder de compra aumentou em função da queda do preço dos produtos, em sua maioria importados da China, nos últimos anos. Isto impulsionou o crescimento econômico chinês e suas exportações, gerando superávits neste país, aplicados em títulos do governo estadunidense.

A indústria do petróleo também foi afetada pela crise, mas também tem gerado muitas incógnitas sobre o comportamento do preço da commodity nos próximos anos. Uma série de fatores envolvendo oferta e demanda poderá influenciar os preços. Se a demanda foi duramente arrefecida pela atual crise, da qual não se sabe a sua duração nem sua intensidade, o que colocou o preço do barril de petróleo a patamares próximos de US$ 50,00; o comportamento na oferta dependerá fortemente da resposta dada aos países produtores de petróleo aos efeitos desta crise, sobretudo os membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

O comportamento na demanda dependerá das políticas energéticas de diversos países que procuram fontes alternativas e/ou maneiras de consumir com menos intensidade o insumo petrolífero.

A indústria automobilística foi seriamente afetada pela crise internacional, incluindo a indústria brasileira já mencionada. As indústrias automotivas dos EUA, Alemanha, Grã-Bretanha e Itália já recorreram ao auxílio de crédito estatal, a exemplo do setor bancário, intensificando o temor de uma longa e dolorosa recessão no primeiro mundo.
 
A General Motors ostenta o maior rombo entre as montadoras estadunidenses, além da Ford e Chrysler, tendo perdas de US$ 2,5 bilhões no terceiro trimestre de 2008 e o valor de suas ações atingiram o nível mais baixo em seis décadas, reflexo do setor automotivo daquele país, cujas vendas despencaram, e 2008 terminou com o pior resultado no setor, desde os anos 1970.

Algumas medidas de apoio ao setor foram adotadas por governantes de alguns países. Na França, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou em dezembro, um pacote de US$ 13,26 bilhões (€10,5 bilhões) para socorrer empresas francesas, principalmente, as duas montadoras Renault e Citröen. 
 
Nos EUA, o governo injetou até o começo de julho US$ 50 bilhões em empréstimos oriundos do tesouro daquele país para socorrer a GM, que esteve em concordata por 40 dias, desde 01 de junho, além disso, a empresa passou por uma profunda reformulação.

A “nova” GM será formada por apenas quatro marcas (Chevrolet, Cadillac, Buick e GMC), tendo o governo estadunidense como acionista majoritário (60%) e começará com apenas US$ 11 bilhões em dívidas, sendo que outros US$ 40 bilhões em débitos ficam com “antiga GM”, sob análise judicial e parte deste débito será eliminado com as vendas da européia OPEL e da canadense Magma. O presidente Barack Obama se empenhou também em socorrer a Chrysler, transferindo seu controle para o grupo italiano FIAT.

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