terça-feira, 13 de outubro de 2009

Administração: a Ciência e as Influências - parte 1

Por
Marcos Bittencourt


Influência da Filosofia

A história da administração encarada como ciência, é recente. No decorrer da história da humanidade ela se desenvolveu de forma lenta, mas contínua; recebendo ao longo contribuições dos mais diversos setores do conhecimento humano. Somente no início do século XX, é que a administração se estabeleceu como ciência, sendo modernamente agrupada no campo das ciências sociais aplicadas.

A primeira influência aposta à administração, ocorreu na Antigüidade, por parte dos filósofos gregos. Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.), por exemplo, garantia ser a administração uma habilidade pessoal, separada do conhecimento técnico e da experiência.
Sócrates não deixou escritos, mas seus discursos e diálogos foram eternizados, principalmente, por Platão. Em um desses discursos, Sócrates fala a Nicomaquides:

“Sobre qualquer coisa que o homem possa presidir, ele será, se souber do que precisa e se for capaz de provê-lo, um bom presidente. Quer tenha a direção de um coro, uma família, uma cidade ou um exército. Não é também uma tarefa punir os maus e honrar os bons? Portanto, Nicomaquides, não desprezeis homens hábeis em administrar seus haveres; pois os afazeres privados diferem dos públicos somente em magnitude; em outros aspectos são similares. Mas o que mais se deve observar é que nenhum deles pode ser gerido sem homens. Nem os afazeres privados são geridos por uma espécie de homem e os públicos por outra; pois aqueles que conduzem os negócios públicos não utilizam homens de natureza diferentes daqueles empregados pelos que gerem negócios privados; e os que sabem empregá-los, conduzem tanto os negócios públicos quanto os privados judiciosamente, enquanto aqueles que não sabem errarão na administração de ambos.”

Influenciado por Sócrates, Platão (429 a.C. - 347 a.C) também tratou do tema. Em sua obra, A República, analisou problemas políticos e sociais do povo grego, em decorrência de seu desenvolvimento social e cultural e expôs a forma democrática de governo e de administração dos negócios públicos.

Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), em seu livro, Política, distingue três formas de administração pública, vigentes até hoje:

1- Monarquia ou governo de um só;

2- Aristocracia ou governo de uma elite;

3- Democracia ou governo do povo.

Ao longo dos séculos outros filósofos influenciaram a administração. Dentre estes, Francis Bacon (1561 – 1626), filósofo inglês, mostrou a preocupação prática de separar experimentalmente o essencial do acidental ou acessório. Antecipou-se, assim, ao princípio da administração conhecido como “Princípio da prevalência do principal sobre o acessório”.

René Descartes (1596 - 1650), filósofo, matemático e físico francês, criador das coordenadas cartesianas ou método cartesiano, na obra O Discurso do Método, evidenciou quatro princípios básicos para a administração:

1- Princípio da dúvida sistemática, ou da evidência, que consiste em somente aceitar como verdade algo que de forma claramente evidente, foi comprovado. Com a dúvida sistemática, evita-se precipitação.

2- princípio da análise ou de decomposição, que consiste em dividir e decompor dificuldades e problemas em quantas partes sejam possíveis e necessárias para resolvê-los separadamente.

3- Princípio da síntese ou da composição, que consiste em conduzir ordenadamente pensamento e raciocínio por objetivos e assuntos, a partir dos mais fáceis e, gradativamente, atingir os mais difíceis e complexos.

4- Princípio da enumeração ou da verificação que consiste em fazer recontagens, verificações e revisões abrangentes e gerais, assegurando nenhuma omissão ou qualquer assunto à parte.

Thomas Hobbes (1588 – 1679), filósofo inglês, em função de sua visão pessimista da humanidade defendeu o governo absoluto. Entendia ele que a humanidade livremente tende à guerra e conflitos permanentes para obtenção de meios de subsistência, por isso um governo que imponha ordem, organização da vida social, investido de poder seria necessário. Esse tipo de estado defendido por Hobbes deveria nascer de um pacto social, mas que ao crescer dominaria toda a sociedade, ameaçando a liberdade.

Por outro lado o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778), desenvolveu a Teoria do Contrato Social, onde o estado nasce de um acordo de vontades. Este acordo acontece entre os membros de uma sociedade, que reconhecem autoridade igual sobre todos, através de um regime político ou de um conjunto de regras. Rousseau garantia que o homem seria bom por natureza, mas que a vida em sociedade deturpa sua bondade natural.

Karl Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895), apresentam uma teoria de origem econômica do estado. Como as teorias propostas por Marx e Engels ganharam grande importância social, política e econômica, serão discutidas mais adiante, juntamente com a análise da influência dos economistas na administração.

A Igreja também deu sua contribuição à administração, utilizando-se de regras, normas, propósitos, objetivos e princípios fundamentais da administração, servindo, portanto, como elemento exemplar, posto que a Igreja consegue operar sua enorme organização mundial sob o comando de uma só cabeça executiva. A estrutura que a igreja montou, hoje é modelo para muitas empresas.

Pode ser citada, ainda, a influência exercida pela organização militar no aparecimento das teorias da administração. A organização linear, o princípio da unidade e comando, a escala hierárquica, são aspectos típicos da organização militar. Com o alcance maior e o âmbito continental das guerras, as organizações militares desenvolveram novos princípios de organização. Planejamento e controle centralizados em paralelo com operações descentralizadas: é o princípio da centralização do comando e da descentralização da execução.
Outras importantes contribuições da organização militar para a administração incluem a criação de órgãos de assessoria. O estado maior – (Staff) – para trabalhar junta ao comando – (Linha) -; o princípio de direção, que define que cada subordinado deve saber exatamente o que se espera dele; e, talvez, a grande contribuição para a moderna administração: o planejamento estratégico.