sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Administração: a Ciência e as Influências - parte final

Por
Marcos Bittencourt

Influência dos Pioneiros e Empreendedores

O interesse em estudar a influência dos pioneiros e empreendedores para a elaboração teórica de uma pesquisa sobre o desenvolvimento da Administração encontra ênfase na formação dos conglomerados por eles desenvolvidos. Aquilo que foi a base da transformação e do aprofundamento do capitalismo para a criação do chamado Capitalismo Industrial serviu de modelo para a formação e o desenvolvimento de organizações bancárias e financeiras. Quase um século depois estas organizações se fortaleceram e se agigantaram diante da produção, aprisionando os próprios conglomerados de então. A financeirização do capital e a extrapolação da territorialidade econômica colocam a produção dependente e escrava do sistema financeiro. O que foi um dia chamado de capitalismo industrial, está hoje submetido ao que podemos chamar de Capitalismo Financeiro.

A empresa integrada verticalmente se formava por meio da combinação entre vários pequenos produtores de determinado bem que se agregavam em uma combinação horizontal, tal como uma federação, sob o controle de uma companhia centralizadora, ou holding. Essas alianças levaram à uma organização com escritórios centrais, permitindo a economia de escala por meio do processo padrão, a concentração da produção em fábricas e investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos. Isso fez com que o escritório central passasse a controlar todo o processo e a decidir as atividades das fábricas e filiais, assim como as vendas e as compras. Essas unidades deixaram de ser dirigidas pelos antigos donos ou famílias então associadas e passaram a ser administradas por gerentes assalariados. Os melhores exemplos de então, apresentados na literatura acadêmica, são as companhias Standard Oil e a American Bell Telephone, grandes corporações norte-americanas.

A partir da segunda metade do século XIX, uma colossal mudança no cenário empresarial, impulsionada por invenções e inovações que mudaram a fisionomia do mundo e, conseqüentemente, das empresas, criou as condições para a consolidação das teorias administrativas.

Mega empreendimentos e grandes fusões, inicialmente na Inglaterra e logo posteriormente nos Estados Unidos, anteciparam ações que seriam disseminadas mundo afora. A rápida urbanização norte-americana, favorecida pelo desenvolvimento das ferrovias, criou novas necessidades de habitação, alimentação, vestuário e o fornecimento de serviços como luz, aquecimento, água, etc... Ao mesmo tempo, a urbanização e o desenvolvimento ferroviário criaram um grande mercado para o ferro e o aço.

Estavam dadas as condições para a formação de trustes. Pioneiros e empreendedores não perderam tempo. São muitos os exemplos de ações impulsionadas por pioneiros e empreendedores que conseguiram concentrar parcela importante do grande capital. Carnegie fundou o truste do aço, Swift e Armour fundam o truste das conservas, Guggenhein o do cobre e Mello o do alumínio. John Rockefeller fundara em 1865, a Standard Oil, gigante do ramo petrolífero, que logo viria a tomar grande importância com a difusão dos motores à explosão, movidos por derivados de petróleo.

Era a época dos criadores de impérios, que passaram a comprar e integrar concorrentes, controlando da ponta inicial da matéria-prima ao consumidor final, dominando fornecedores e distribuidores, garantindo, assim, seus interesses.

Para se ter uma idéia do poderio das grandes corporações, em 1880 a Westinghouse e a General Eletric dominavam o ramo de bens duráveis e criaram organizações próprias de vendas, com vendedores treinados, iniciando o que hoje denominamos marketing. Controlavam, também, as matérias-primas, adquirindo fornecedores, e criando uma rede de distribuição, visando vender seu produto diretamente aos varejistas ou aos consumidores finais. Tais atitudes foram seguidas pela maioria das empresas americanas e por grande parte de empresas em outros países.

Os aglomerados de empresas se tornaram grandes demais, para serem dirigidos por pequenos grupos familiares ou mesmo societários. Logo apareceram os primeiros gerentes, os primeiros organizadores, inicialmente focados mais na fábrica e na produção, mas posteriormente alargando seu espectro de atuação para o conjunto da organização, abarcando a produção e a manufatura, as vendas e os escritórios distritais de vendedores, distribuídos em nível nacional. Criaram, para tanto, departamentos correlatos. Expandiram, ainda, departamentos técnicos de engenharia para desenho e desenvolvimento de produtos e departamento financeiro.

O grande desenvolvimento tecnológico, o livre-comércio, a mudança dos mercados vendedores para mercados compradores, o crescimento acelerado dos negócios e das empresas e o aumento da capacidade de investimento de capital, trouxeram condições propícias para a fundação de bases científicas para a melhoria das práticas empresariais e para o amadurecimento da teoria administrativa.

Assim, a Revolução Industrial abriu as portas para o início da Era Industrial, que passou a dominar o mundo econômico até o final do século XX. A Revolução Industrial foi o divisor de águas, mantendo de um lado países industrializados, detentores de grandes avanços, e, na margem oposta, marginalizados mesmo, países não-industrializados, emergentes e subdesenvolvidos. Nos mesmos moldes ficaram separadas por profundo abismo as organizações mais bem administradas daquelas precariamente administradas.

O terceiro quarto do século XX vislumbrou o amanhecer da Era da Informação e, com o competente domínio da economia mundial por organizações financeiras e bancárias, assistimos o desenvolvimento do que podemos chamar de Capitalismo Financeiro.


Finalizando

As bases para a construção deste artigo foram formadas em obras escritas por Idalberto Chiavenato, Antonio Cesar Amaru Maximiano e Peter Drucker. Todos abordaram a Administração como ciência e buscaram expor as teorias administrativas sempre relacionadas, essencialmente, ao ser humano. Mesmo Peter Drucker, criador da Administração por Objetivos, defendia que uma organização só tem sentido porque é composta por pessoas. Muito se confunde Administração por Objetivos com imposição de metas. São coisas totalmente diferentes.

Teremos oportunidade de discutir em outros artigos as diferentes abordagens da Administração e suas bases teóricas. Buscaremos, também, desenvolver mais os aspectos econômicos e financeiros da Administração e demonstrar o predomínio das instituições financeiras e bancárias na economia mundial e a concentração exagerada de capital nas mãos destas empresas, tornando a produção, o trabalho e a sociedade reféns do sistema financeiro.